sábado, 16 de fevereiro de 2013

A linha tênue dos enredos patrocinados


Sábado de desfile de campeãs, e o carnaval do Rio se despede mais uma vez de nós. A Marquês de Sapucaí volta a ficar cinza, perdendo todas aquelas placas, bexigas, stands e outros apetrechos de seus milionários patrocinadores.

Há umas semanas, minha namorada comentou comigo que a Vila Isabel, a qual acabara sendo a campeã do Carnaval de 2013, havia fechado uma negociação milionária com uma empresa patrocinadora de seu enredo, e desde então despertei certa curiosidade sobre o tema.

Até que ponto é válido as escolas de samba abrirem mão da autoria própria do enredo para falarem de temas com propósitos comerciais?

Qual o retorno que essas empresas obtêm ao patrocinar uma escola de samba, já que suas marcas quase não são expostas visualmente durante o desfile?

Marcelo Freixo, quando candidato a prefeito, tocou nesse assunto de forma polêmica, mas seu objetivo era claro e bastante pertinente. O repasse de verba da prefeitura para escolas de samba tinha de, no mínimo, exigir a contrapartida cultural. A grande premissa dos enredos de escolas de samba sempre foi com relação à valorização da cultura e das tradições nacionais. E a nova onda de enredos patrocinados coloca essa premissa em risco. O maior exemplo, talvez, tenha sido a Porto da Pedra em 2012, ao levar para Sapucaí o tema “Iogurte”, após patrocínio milionário da Danone.

Porto da Pedra caiu para Grupo de Acesso após apresentar enredo patrocinado pela Danone

Mas nessa história toda, o útil ainda pode andar junto com o agradável. Escolas como Unidos da Tijuca e Inocentes de Belford Roxo definiram seus enredos antes de negociarem com seus respectivos patrocinadores. A Tijuca, que optou por falar sobre o ano da Alemanha no Brasil, conseguiu fechar com 3 grandes empresas alemãs: Merck, Volkswagen e Stihl. Por outro lado, escolas como Imperatriz e São Clemente, que falaram sobre o Pará e as novelas do horário nobre, respectivamente, também definiram seus enredos antes de buscarem patrocinadores, entretanto Governo do Pará e TV Globo alegam não terem patrocinado tais enredos.

A Vila Isabel não correu o mesmo risco. A escola aceitou a sugestão de ter seu enredo definido pela patrocinadora Basf, líder em seu ramo, mas teve o cuidado em não deixar de exaltar a cultura brasileira, quando falou sobre o agricultor e a vida nas zonas rurais.

A única mesmo que nem cogitou em receber patrocínio pelo seu enredo foi a União da Ilha, que falou sobre o centenário de Vinicius de Moraes.

Do ponto de vista do patrocinador, apesar de não ter grande exposição de sua marca no desfile, o retorno do ponto de vista institucional é considerável, além de incentivos fiscais e da oportunidade de estreitar laços com grandes clientes e parceiros, levando os mesmos para a Sapucaí curtir, muitas vezes, enredos que atraem suas atenções e reforçam o papel da empresa em determinadas áreas de negócio. A Stihl, por exemplo, organizou concurso entre suas concessionárias, levando à Sapucaí as com melhores resultados em vendas.

Abaixo segue uma tabela com uma rápida pesquisa que fiz sobre os enredos e os respectivos patrocínios “oficiais” no Carnaval carioca de 2013:



Na minha humilde opinião, as únicas escolas que se empolgaram aí nesse bolo doido de enredos foram Salgueiro, ao falar de Fama, e Mocidade, ao falar de Rock in Rio, ambas com uma pontuação muito abaixo do que estão acostumadas a conquistar.

Vale lembrar que dentre outros patrocínios, cada escola recebe cerca de 1 milhão da TV Globo, mais outro milhão da Prefeitura e mais outro da Petrobrás, sem contar os patrocínios de quadra e de outras empresas através das Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura.

As fontes de todas estas informações são dos jornais O Dia, O Globo, e sites das empresas supracitadas.

Adendo: A Unidos da Tijuca também recebeu patrocínio da GVT, informação não presente no quadro acima.

Comente e critique! Abraços.