sábado, 3 de agosto de 2013

Nove quadras para casa

Ao voltar da minha labuta
Com quem ainda está nela
Vejo pouco marachuá
Melhor olhar pela janela

O fiscal já assobiou
Não adianta suspirar
Não tem banheiro nem cantina
E a linha é circular.

Ai de ti se não ouvir
A cigarra toca à bessa
A coroa indignada
O rapaz está com pressa

'Boa noite senhor
Cuidado com o celular meu nobre
Pode passar madame
Água Santa só dois quatro nove'

Um chicletinho do ambulante
Libera a roleta e dá o troco
Converte a direita muito afoito
Fazendo jus por ser piloto

Seu colega é concorrente
Se parar fica pra trás
'São seis e vinte minha gente
Se eu abrir não cabe mais'

Frio de julho está brabo
A cada marcha ele funga
Deve estar dormindo pouco
Olhos vermelhos, olheira funda

Agitação inquietante
Passa a marcha com uma dança
Desequilibra o ambulante
Ir pro morro é a esperança

Mais um dia que se foi
Ir à garagem ainda não
Hora de ir ao Andaraí
Prestar as contas pro patrão.


Em referência ao cotidiano dos nossos odiados e queridos motoristas de ônibus.

por Gabriel Temístocles
Rio de Janeiro, 03 de agosto de 2013.

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Estrofe 1 - O trabalhador ignorado pelos trabalhadores.
Estrofe 2 - Desconforto e descaso cotidiano. Rodoviárias sem o mínimo de estrutura.
Estrofe 3 - Passageiros intolerantes.
Estrofe 4 - Desvalorizado lado humano. Roubos constantes em pontos de ônibus da Central.
Estrofe 5 - Trabalho multifuncional.
Estrofe 6 - Hora do rush e ausência de fiscalização.
Estrofe 7 - Cansaço e uso de drogas.
Estrofe 8 - Stress e despreparo.
Estrofe 9 - Referência ao grande número de ônibus estacionados à noite pelas ruas do Andaraí e as grandes filas de rodoviários fechando seus caixas, enchendo o bolso de quem mal os paga.