sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Copa mais esperada está chegando

Desde que me entendo por gente, e por mais absurdo que seja admitirmos isso, esta é a Copa do Mundo que mais ansiedade instiga nos brasileiros. Mas dessa vez a disputa entre as quatro linhas está em segundo plano.

O maior evento esportivo do planeta vai ser sediado pelo nosso tão criticado mundo a fora Brasil, a sexta ou sétima potência mundial, mas que é vista pelo seu povo – e pela imprensa com dor de cotovelo dos países que foram derrotados na escolha da sede de 2014 - como a pior de todas as galáxias. A opinião é tão embasada que teve até gente daqui assinando revista francesa especializada em Brasil do dia para a noite.
Aliás, vale avisar que assim como esse primeiro parágrafo, todo esse texto trata de forma bem generalista o momento em que estamos.

Devemos admitir, no entanto, que apesar de estarmos nesse bonito top 10 dos mais ricos, não estamos tão bem assim quando o assunto é corrupção. Somos os 72º menos corruptos, melhores, ao menos, que 105 outros países ilustres tais como Venezuela e Afeganistão. E é justamente esse tema que dá o sabor especial à expectativa de chegada da Copa. Mais em foco do que a conquista do hexa, a indignação da população em relação às exigências incontestáveis da FIFA e os gastos bilionários com estádios é o que mais nos deixa apreensivos.

O engraçado é que por mais que não acordássemos e levantássemos a bandeira contra a corrupção, estaríamos P da vida da mesma forma com nossa internacionalmente reconhecida capacidade de não ser pontual com absolutamente nada. Estamos a menos de 30 dias do início da Copa e diversas obras que ainda estão em andamento serão finalizadas à base do improviso – mesmo depois de serem feitos investimentos financeiros muito acima do que fora planejado para projetos que, em tese, seriam concluídos dentro do prazo.

Fonte: memoria.ebc.com

Como passaremos por esse momento tão peculiar?
De forma incrível conseguimos transformar o evento que (antes através do futebol) mais enchia de orgulho o brasileiro, em um fato histórico de reviravolta do povo contra seus governantes, que até então achavam que esse discurso de “legado da Copa” iria colar.
As bandeirinhas penduradas na janela e o grito de “Brasil” (se é que ainda há tempo de surgirem) terão um sentido especial na Copa de 2014. Especial por não serem (apenas) pela seleção de futebol. Mas (também) contra a seleção de políticos incompetentes que somos forçados a votar por falta de opção, nesse sistema desatualizado em que qualquer um com estudos primários tem a possibilidade de se candidatar a qualquer cargo político. Nesse sistema oportunista onde um ministério ou uma secretaria são compostos por centenas ou dezenas de cargos de confiança. Tecnocracia zero.

O momento tem como símbolo uma grande interrogação. Primeiramente por parte da própria seleção, que já não tem mais aquele antigo futebol arte e não demonstra mais desempenhos convincentes. Segundo por não estarmos seguros se vamos, de fato, conseguir "entregar" uma boa Copa, diante das falhas que são recorrentes em nossos serviços, como os gritantes nos transportes áereo e terrestre. Porém mais relevante ainda que isso é a interrogação que assombra tanto o governo, que certamente não sabe o que o espera nesse momento tão crítico, quanto pelo povo, que está num dilema entre torcer, ser indiferente, ou protestar.
Gostamos de futebol, gostamos da seleção, e vamos sim torcer pelo Brasil (muitos de forma omissa, mas vão). Mas vai ser interessante acompanhar o mundo todo nos assistindo e nos visitando, num momento onde os grandes protestos que se iniciaram em Maio de 2013 estão voltando à tona. E junto com eles, aparecem as greves nos serviços essenciais. Vai ser interessante ver estádios padrão FIFA cercados de soldados, de batedores de tropas de choque e cordões de isolamento das polícias militares. O Brasil vai mesmo precisar, mais do que nunca, de um bom plano de contingência, até mesmo por conta dos riscos tradicionais, como ataques terroristas e atentados, como os que já têm acontecido ultimamente no Rio, por exemplo.

Quando nos candidatamos para ser país-sede não reclamamos de nada. Mas o intervalo entre a decisão do Brasil como país-sede e a aproximação da Copa, foi tempo suficiente para darmos um “click”, cairmos na real e vermos toda essa energia de Copa, que ocorre há décadas, de um ponto de vista mais crítico, ao menos dessa vez.

Vamos torcer? Vamos protestar? Vamos quebrar tudo?
Ou vamos ficar quietos conflitando entre a oportunidade de mostrar ao mundo que somos capazes de fazer a melhor Copa do Mundo e a oportunidade de mostrar pros nossos governantes de que não somos mais tão manipuláveis? Qual das duas tem mais valia diante do nosso cenário capitalista?

E nos estádios? Gritaremos o hino com raiva na esperança de sermos compreendidos pelas autoridades, ou ficaremos em silêncio, demonstrando extrema indignação, como feito pela torcida na final da Copa da Itália há algumas semanas? Tomem a atitude que tomar, cantem ou não o hino, acho que nada vai entristecer mais o torcedor dentro do estádio do que a lembrança de quanto ele pagou pelo seu ingresso, preço Padrão FIFA.
E se chegarmos à final no Maracanã? Vamos nos render a este momento único, sentar de frente pra TV e torcer pela “amarelinha”, ou vamos manter a firmeza nos protestos contra a corrupção?

Fonte: neriojunior.blogspot

De uma forma ou de outra, junho e julho de 2014 serão meses que ficarão marcados na história. Teremos a honra de vivenciar esse momento. E quando eles passarem, nos utilizaremos do nosso soberbo, ignorante, e carente “eu já sabia”, bem em sintonia com a sensatez brasileira, seja pra menosprezar um título ou debochar da desclassificação da seleção, ou mesmo para comentar um confronto de repercussão internacional entre a Força Nacional e ativistas conterrâneos.

Talvez a Copa não deixe uma boa imagem do nosso país mundo a fora e nem mesmo um legado em nossa infraestrutura. Mas para algo importante ela irá servir: pra nos mostrar que um país (e seu governo) é o reflexo do seu povo. E se seu povo está lutando por progresso, é porque nosso crescimento e amadurecimento como nação certamente está apenas se iniciando.
Mesmo que façamos uma pequena pausa para assistir um bom futebol.