terça-feira, 21 de outubro de 2014

Como escolher seu presidente?

Nas últimas semanas nossas redes sociais e até nossos botecos de finais de semana foram tomados por dois grandes grupos de pessoas que, salvo os níveis de sensatez e de emotividade dos componentes em ambos os lados, são muito semelhantes em seus discursos: o grupo dos que irão votar no Aécio Neves, e o dos que irão votar na Dilma Rousseff.

O texto a seguir, além de sugerir uma base mais objetiva e prática para decidir seu voto, tenta evidenciar também por que as atuais discussões sobre quem será o melhor presidente são pouco relevantes.




Se nos colocarmos numa posição mais neutra e fazermos uma rápida análise sobre o embate tão superficial que se desenvolveu nos últimos tempos, vamos perceber que ambos os grupos se utilizam dos mesmos discursos - muitas vezes sem realizarem uma reflexão mínima - para defender seu candidato. E também se utilizarão dos mesmos discursos - muitas vezes levianos e tendenciosos - para atacar o adversário.

O primeiro ponto a ser compreendido pelos eleitores em meio a esse mundo de debates e embates virtuais é o seguinte: não existe candidato certo. Tanto um quanto o outro irá realizar projetos caros que beneficiarão o país de forma geral e tanto o “outro” quanto o “um” irá tomar decisões impopulares em determinados momentos em prol de avanços estruturais que trarão benefícios somente a médio ou longo prazo. E, nada mais certo para se afirmar, ambos cometarão erros. Erros estes que farão com que os que votaram no candidato derrotado se sintam orgulhosos para adotar o tal discurso de que "não votaram errado". Que "estão isentos da responsabilidade de terem elegido o presidente da vez”. Alguns irão inclusive chamar de burros os que votaram nesse presidente que venceu.

Nada mais ignorante. Primeiro porque, insisto, nesse caso não existe candidato errado. Ninguém vota achando que seu candidato irá cometer falhas que destruirão o país. Se achassem, simplesmente não votariam nele - então, por favor, se seu candidato perder na semana que vem, e daqui a algum tempo o vitorioso cometer alguma falha, nos poupe ao menos de chamar de burros os que votaram no eleito.
E terceiro que nunca saberemos se o candidato não eleito faria, de fato, um governo melhor do que o que se elegeu. Talvez a coisa ficasse pior, vai saber?

Para ilustrar um pouco, trago a realidade que observei em Junho de 2013 quando parte das pessoas que protestavam no Centro do Rio de Janeiro levantavam o cartaz de “Fora Cabral”, e enchiam a boca para falar que não haviam votado nele e ainda criticavam os que votaram. Será mesmo que esses milhares de pessoas estavam sendo coerentes?
Se olharmos um pouco para trás, em 2010, Sergio Cabral foi eleito no Rio ainda no primeiro turno com mais de 5.200.000 votos. Enquanto o segundo lugar, Gabeira, ficou com cerca de 1.600.000 (fonte: UOL). Agora a grande pergunta. Será mesmo que Gabeira teria feito um governo melhor que o de Sergio Cabral?

Como não existe resposta concreta para essa pergunta (afinal estaríamos levantando hipóteses), vou seguir com a lógica principal desse texto. No cenário atual, temos defesas e ataques dos 2 lados.

Os que defendem Aécio e criticam Dilma se utilizam dos seguintes discursos:


- Aécio tem mais postura e demonstra ter uma equipe mais preparada;
- FHC, do PSDB, revolucionou a economia do país com a criação do Plano Real;
- Dilma está fazendo com que o país entre em recessão econômica;
- O PT esteve envolvido nos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil.


Os que defendem Dilma e criticam Aécio se utilizam dos seguintes discursos:


- Dilma revolucionou o crescimento das classes mais baixas com políticas sociais abrangentes;
- Lula, do PT, reduziu a fome e a taxa de desemprego no Brasil drasticamente;
- Aécio não ganhou o primeiro turno em Minas, estado o qual governou durante 8 anos;
- O PSDB é de direita e, portanto, tende a utilizar o discurso de meritocracia para governar para os ricos.


E para todos esses discursos, podemos entrar num ciclo vicioso e sem fim de contra-argumentos...

O rapaz do Aécio diz...
O rapaz da Dima diz...
Conclusão
O Bolsa Família é fruto de projetos sociais idealizados pelo PSDB, como por exemplo o Bolsa Escola.

Mas o PT aprimorou o programa e fez com que o Bolsa Família beneficiasse dezenas de milhões de brasileiros.

Mérito de ambos os lados. Um idealizou, e outro executou.

O rapaz da Dima diz...
O rapaz do Aécio diz...
Conclusão

O Brasil cresceu significativamente nos últimos 10 anos.

Cresceu graças ao Plano Real criado pelo Fernando Henrique.
Mérito de ambos os lados. Um estruturou, e outro soube governar e colher os frutos.

O rapaz do Aécio diz...
O rapaz da Dima diz...
Conclusão

O Plano Real estabilizou a economia brasileira, aumentou o poder de compra do brasileiro e deu início ao ciclo de desenvolvimento do país nos últimos anos.

O Plano Real só fez sucesso porque governantes anteriores afundaram o Brasil em uma das piores crises da sua história.
Ambas as afirmações são pertinentes.

O rapaz da Dima diz...
O rapaz do Aécio diz...
Conclusão
O governo atual implementou políticas sociais que tiraram milhões da miséria e hoje recebem assistências do governo.
O assistencialismo atual cria uma inexistente guerra de classes, que estimula seus beneficiários a abrirem mão dos estudos e do trabalho, e ao mesmo tempo critiquem a opinião dos que buscam enriquecer por méritos próprios.

Sabemos que nem todos os beneficiários de políticas sociais fazem jus a elas e/ou conseguem se desenvolver, bem como sabemos que nem todos enriquecem somente por "mérito próprio".
O jeitinho brasileiro para ganhar dinheiro fácil está presente em todas as esferas.


E só temos essas conclusões porque estamos considerando cruamente cada um desses discursos. Se pararmos para apurar, iremos nos deparar com outras variáveis, outras contra-argumentações que nos deixarão em outros ciclos viciosos de discussões e nos levarão para longe do objetivo central, que seria a escolha do presidenciável mais adequado.

O fato é que em ambos os lados você possui riscos que impactam todas as classes sociais e também propostas que, em teoria, visam beneficiar as classes menos favorecidas. O PSDB realmente estruturou uma economia de sucesso para o país e o PT desenvolveu, de fato, políticas sociais bem sucedidas.
E o que fica implícito é que o PSDB, ou qualquer outro partido que pudesse se eleger, não será capaz de extinguir tais programas sociais. Primeiro porque os mesmos representam um mundo de votos, que certamente farão a diferença nas eleições de 2018, e segundo que, ao contrário do que parecem acreditar, um presidente não tem o poder de mudar um país drasticamente do dia para a noite.

E é aí que está o centro de toda a questão levantada nesse texto. A atribuição de um presidente é macro, é generalista. As pessoas que hoje se enfurecem ao discustir sobre quem é o melhor presidenciável, talvez não saibam que suas vidas não irão mudar muita coisa daqui pra frente por conta da eleição de um presidente ou de outro – aliás, o que faz nossa vida mudar mesmo são os estudos e o trabalho, fica a dica.

Fato é que, seja lá qual for o candidato eleito, ninguém terá uma mudança radical de vida em curto prazo. Ambos os candidatos estão cercados de centenas de pessoas para cobrá-los, para confrontá-los, e para apoiá-los em medidas que venham corrigir algum problema ou melhorar ainda mais algo que já esteja dando certo. Ambos os partidos, assim como qualquer outra organização (privada, ONG, ou seja lá o que for), estão sujeitos a se envolverem em esquemas de corrupção.

O que me leva a concluir que, dentro das possibilidades, o que tem que ser base para sua tomada de decisão é o nível de empatia e confiança que você possui por um candidato, e que os argumentos listados anteriormente como exemplo, não farão muita diferença no que pode ocorrer daqui pra frente. Cada um de nós possui experiências e características particulares que, em alguns casos nos farão confiar mais na Dilma e no PT, e em outros casos, confiar mais no Aécio e no PSDB.

Então o que eu proponho é que esqueçamos por alguns minutos tudo o que estão compartilhando e dizendo por aí. Assista a um debate (o próximo será na TV Globo, sexta-feira, dia 24/10) e questione-se:


Com quem eu me identifico mais? Qual deles acredito ter maior capacidade para trazer resultados e colocar seus objetivos em prática?


Pronto. Vote. E não perca mais tempo tentando convencer os outros de que as vitrolas arranhadas ao seu redor estão utilizando argumentos certos ou errados. Daqui a mais 4 anos irão tentar enfiar em nossas cabeças que estamos insatisfeitos e injustiçados, e que candidato X é melhor que Y, e que o X errou ali e acertou aqui, e que o Y fez isso e deixou de fazer aquilo. A realidade é que dentro da nossa estrutura, para alguém chegar a um segundo turno de eleições presidenciais, certamente tem uma trajetória de sucesso e competências ímpares para assumir tal papel.

E por isso, independente do candidato, continuaremos crescendo (ou aprendendo), dentro dos limites do nosso sistema: vagarosa e, porém, constantemente.