sábado, 3 de agosto de 2013

Nove quadras para casa

Ao voltar da minha labuta
Com quem ainda está nela
Vejo pouco marachuá
Melhor olhar pela janela

O fiscal já assobiou
Não adianta suspirar
Não tem banheiro nem cantina
E a linha é circular.

Ai de ti se não ouvir
A cigarra toca à bessa
A coroa indignada
O rapaz está com pressa

'Boa noite senhor
Cuidado com o celular meu nobre
Pode passar madame
Água Santa só dois quatro nove'

Um chicletinho do ambulante
Libera a roleta e dá o troco
Converte a direita muito afoito
Fazendo jus por ser piloto

Seu colega é concorrente
Se parar fica pra trás
'São seis e vinte minha gente
Se eu abrir não cabe mais'

Frio de julho está brabo
A cada marcha ele funga
Deve estar dormindo pouco
Olhos vermelhos, olheira funda

Agitação inquietante
Passa a marcha com uma dança
Desequilibra o ambulante
Ir pro morro é a esperança

Mais um dia que se foi
Ir à garagem ainda não
Hora de ir ao Andaraí
Prestar as contas pro patrão.


Em referência ao cotidiano dos nossos odiados e queridos motoristas de ônibus.

por Gabriel Temístocles
Rio de Janeiro, 03 de agosto de 2013.

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Estrofe 1 - O trabalhador ignorado pelos trabalhadores.
Estrofe 2 - Desconforto e descaso cotidiano. Rodoviárias sem o mínimo de estrutura.
Estrofe 3 - Passageiros intolerantes.
Estrofe 4 - Desvalorizado lado humano. Roubos constantes em pontos de ônibus da Central.
Estrofe 5 - Trabalho multifuncional.
Estrofe 6 - Hora do rush e ausência de fiscalização.
Estrofe 7 - Cansaço e uso de drogas.
Estrofe 8 - Stress e despreparo.
Estrofe 9 - Referência ao grande número de ônibus estacionados à noite pelas ruas do Andaraí e as grandes filas de rodoviários fechando seus caixas, enchendo o bolso de quem mal os paga.

sábado, 22 de junho de 2013

PEC-37 para leigos

Não que eu não seja um leigo, mas pelo que percebo, a Proposta de Emenda Constituicional de Nº 37 tornou-se um viral.

Viral, segundo a Wikipedia

Não, também, que isso seja um problema, mas tem muita gente por aí levantando a bandeira contra esse Projeto (que ainda será votado) sem nem saber direito o que ele significa.
Então, aproveitando essa onda de manifestações e que muita gente tem buscado se inteirar (assim como eu) nesses assuntos mais relevantes, vamos em frente. Especialistas que me complementem caso necessário.

Basicamente, em um processo, temos os seguintes envolvidos:



Como visto acima, no cenário atual, o Ministério Público tem o poder não apenas de acusar/denunciar o réu, mas também de atuar na investigação do mesmo, conforme ilustrado abaixo:

Cenário atual, o qual será mantido caso a PEC-37 não seja aprovada.


O que a PEC-37 propõe, é que o Ministério Público possua apenas o papel de denunciar e acusar o réu, ficando o papel de investigação, exclusivamente, para as polícias civil e federal, órgãos estes subordinados ao Poder Executivo. Ou seja, caso a PEC seja aprovada, o novo cenário seria conforme o ilustrado abaixo:

Cenário proposto, o qual entrará em vigor caso a PEC-37 seja aprovada.


Os cenários apresentados dividem a opinião de especialistas.

Os que não defendem a aprovação da PEC acreditam que, ao mesmo tempo em que acusa, o Ministério Público tem o direito de ser o investigador da causa a qual ele mesmo denunciou. O uso do termo “PEC da Impunidade”, coloca em cheque a atuação isolada das polícias, visto que estas estão subordinadas ao Poder Executivo, enquanto o Ministério Público, não.

Já os que defendem a aprovação da PEC acreditam que, reservando a exclusividade de investigação para as polícias, o processo será conduzido de forma imparcial, afinal, o lado que acusa, não pode, ao mesmo tempo, investigar, visto que, no caso de inocência do réu, o mesmo terá sua defesa enfraquecida. É por isso que estes a chamam de “PEC da Democracia”, ou seja, o Ministério Público continua com o seu papel de acusação, mas não pode se envolver no inquérito.

Esse assunto, mais uma vez, nos prova o quão perigoso é sair lendo qualquer coisa que publicam por aí. Isso porque alguns meios de comunicação divulgam, maliciosamente, apenas que essa PEC “tira o poder de investigação do Ministério Público”. Mas seria prudente divulgarem também que o Ministério Público continua com seu papel de denunciar e acusar, e que a investigação continuará sendo realizada pelas polícias, como já é feita em alguns casos atualmente. É válido também que fique claro que o Ministério Público já é um órgão independente por si só, enquanto as Polícias estão subordinadas ao Executivo.

Por fim, as conclusões que chegamos são:

1) No primeiro cenário (contra a PEC-37), o cerco aos corruptos estará mais fechado, e as chances de eles se livrarem é menor, visto que quem está acusando, também poderá estar investigando.

2) No segundo cenário (a favor da PEC-37), a imparcialidade nas investigações está garantida, e em eventuais acusações onde os réus sejam, de fato, inocentes, a investigação será feita por um órgão independente (as Polícias), o que diminui as chances de os mesmos serem punidos indevidamente.

Pronto. Agora sim, forme sua opinião e opte por levantar ou não sua bandeira contra a PEC-37, com data de votação ainda indefinida pela Câmara até a reunião de 25/6.

Mantenham-se informados e abraço!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A linha tênue dos enredos patrocinados


Sábado de desfile de campeãs, e o carnaval do Rio se despede mais uma vez de nós. A Marquês de Sapucaí volta a ficar cinza, perdendo todas aquelas placas, bexigas, stands e outros apetrechos de seus milionários patrocinadores.

Há umas semanas, minha namorada comentou comigo que a Vila Isabel, a qual acabara sendo a campeã do Carnaval de 2013, havia fechado uma negociação milionária com uma empresa patrocinadora de seu enredo, e desde então despertei certa curiosidade sobre o tema.

Até que ponto é válido as escolas de samba abrirem mão da autoria própria do enredo para falarem de temas com propósitos comerciais?

Qual o retorno que essas empresas obtêm ao patrocinar uma escola de samba, já que suas marcas quase não são expostas visualmente durante o desfile?

Marcelo Freixo, quando candidato a prefeito, tocou nesse assunto de forma polêmica, mas seu objetivo era claro e bastante pertinente. O repasse de verba da prefeitura para escolas de samba tinha de, no mínimo, exigir a contrapartida cultural. A grande premissa dos enredos de escolas de samba sempre foi com relação à valorização da cultura e das tradições nacionais. E a nova onda de enredos patrocinados coloca essa premissa em risco. O maior exemplo, talvez, tenha sido a Porto da Pedra em 2012, ao levar para Sapucaí o tema “Iogurte”, após patrocínio milionário da Danone.

Porto da Pedra caiu para Grupo de Acesso após apresentar enredo patrocinado pela Danone

Mas nessa história toda, o útil ainda pode andar junto com o agradável. Escolas como Unidos da Tijuca e Inocentes de Belford Roxo definiram seus enredos antes de negociarem com seus respectivos patrocinadores. A Tijuca, que optou por falar sobre o ano da Alemanha no Brasil, conseguiu fechar com 3 grandes empresas alemãs: Merck, Volkswagen e Stihl. Por outro lado, escolas como Imperatriz e São Clemente, que falaram sobre o Pará e as novelas do horário nobre, respectivamente, também definiram seus enredos antes de buscarem patrocinadores, entretanto Governo do Pará e TV Globo alegam não terem patrocinado tais enredos.

A Vila Isabel não correu o mesmo risco. A escola aceitou a sugestão de ter seu enredo definido pela patrocinadora Basf, líder em seu ramo, mas teve o cuidado em não deixar de exaltar a cultura brasileira, quando falou sobre o agricultor e a vida nas zonas rurais.

A única mesmo que nem cogitou em receber patrocínio pelo seu enredo foi a União da Ilha, que falou sobre o centenário de Vinicius de Moraes.

Do ponto de vista do patrocinador, apesar de não ter grande exposição de sua marca no desfile, o retorno do ponto de vista institucional é considerável, além de incentivos fiscais e da oportunidade de estreitar laços com grandes clientes e parceiros, levando os mesmos para a Sapucaí curtir, muitas vezes, enredos que atraem suas atenções e reforçam o papel da empresa em determinadas áreas de negócio. A Stihl, por exemplo, organizou concurso entre suas concessionárias, levando à Sapucaí as com melhores resultados em vendas.

Abaixo segue uma tabela com uma rápida pesquisa que fiz sobre os enredos e os respectivos patrocínios “oficiais” no Carnaval carioca de 2013:



Na minha humilde opinião, as únicas escolas que se empolgaram aí nesse bolo doido de enredos foram Salgueiro, ao falar de Fama, e Mocidade, ao falar de Rock in Rio, ambas com uma pontuação muito abaixo do que estão acostumadas a conquistar.

Vale lembrar que dentre outros patrocínios, cada escola recebe cerca de 1 milhão da TV Globo, mais outro milhão da Prefeitura e mais outro da Petrobrás, sem contar os patrocínios de quadra e de outras empresas através das Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura.

As fontes de todas estas informações são dos jornais O Dia, O Globo, e sites das empresas supracitadas.

Adendo: A Unidos da Tijuca também recebeu patrocínio da GVT, informação não presente no quadro acima.

Comente e critique! Abraços.