sábado, 9 de julho de 2011

Desigual como o Rio não há igual


Já dizia o Matias durante uma aula no Tropa de Elite 1... “Do apartamentozinho de vocês, aqui, na Zona Sul.. não dá para ver esse tipo de coisa.”

E eu, zona norte, agora frequentador da zona sul como nunca antes, posso comprovar o quanto isso é real.

O Rio de Janeiro mesmo sendo uma cidade consideravelmente pequena, consegue a façanha de ter uma população que (quase que) literalmente vive em mundos absolutamente diferentes. Mundos esses que em 30 minutos você se teletransporta de um para o outro.
Numa final de campeonato carioca entre Botafogo X Vasco que fui com um amigo, conhecemos um casal de noruegueses que viajavam o mundo. Falaram de várias coisas que mais chamaram a atenção deles em diversos países, e, no Rio, mesmo com tantas belezas, o que mais os chamou atenção foi justamente a proximidade entre pessoas com condições sociais tão desiguais. É verdade e sabemos disso, mas só paramos pra analisar certas situações em casos como esse, quando alguém que tem uma visão “de fora” chega e comenta.

Enquanto um milionário admira o mar no Leblon, do outro lado da rua um menino do Vidigal pede esmola pra um “classe média” nas areias da praia...
Tem gente que é tão “cega” que tem até medo de tocar em certos assuntos. Quando fui pela primeira vez em um ortopedista no Jardim Botânico, ouvi uma senhora com um penteado exuberante e maquiagens finas comentando sobre a estreia de Velozes e Furiosos no Rio pro marido: “É muito bom... muita ação... só que...” e então piscou o olho com cara de pesar. Por um momento pensei que ela fosse lamentar alguma falha de produção ou algo do tipo... Quando ela olha pro marido e, sem deixar sair a voz, só mexe os lábios “...fa-ve-la...”. Como se a recepcionista (ou até mesmo eu, né - com minha roupa social de quem só está ali porque trabalha ali!) fosse achar estranho ela falar aquela palavra numa clínica de ortopedia.
A Zona Sul é sem dúvidas muito bela, tem outro ar, outros sons.... mas eu não consigo entender como nossa cultura consegue fazer uma pessoa ignorar mais de 90% da área da cidade e ainda alegar que “passando o Rebouças não é mais Rio” (frase real de um morador de Copacabana...)
Por fim, apresento-vos, o mapa do nosso Rio de Janeiro (clique, espere e clique de novo!):

otemizando - mapa de bairros do Rio
Mapa da cidade do Rio de Janeiro - Zonas Oeste, Norte, Centro e Sul e seus bairros.


É curioso, e tudo bem que temos mato e morros que não acabam mais, mas se prestarmos atenção, o centro do Rio de Janeiro fica exatamente em Realengo! O Méier tem a mesma distância que São Conrado tem do Flamengo. E da Urca ao Recreio você anda muito mais do que da Urca ao Complexo do Alemão...
E só pra finalizar, compartilho umas frases reais... sem citar nomes...
A internet lá ainda é a rádio... não é que nem essa região de Méier, Copacabana...” por morador da Pavuna;
Queria conhecer um baile funk.... de preferência o da Mangueira. Cara, lá já é considerado Baixada??” por morador de Copacabana;
Quintino? Hum.... Namorei uma menina que mora lá perto... em Anchieta” por morador da Tijuca;
Ele é lá de Cascadura. Deve ir pra Via Show direto!!” por morador de Copacabana;
Cara, tá maluco, comer isso? Esse salgado vem lá de Benfica!” por transeunte no Jardim Botânico que provavelmente deve achar que o salgado vem de Portugal;
Olha também onde teve briga, né? Baixo Méier, po! Já imagino um monte de nego com pistola apontando pro alto... terra de ninguém...” por frequentador do Baixo Gávea;
Cara, fui no show do Paul no Engenhão e pela primeira vez andei de trem. Não sei o que esses pobres reclamam tanto! Serviço impecável, tudo limpinho, cheiroso. Se eles conhecessem o metrô....” moradora de Botafogo com mais de 40 anos de idade.

Enfim.... essa visão deturpada em alguns casos é inevitável e o que gera isso é a nossa cultura; não é "culpa" da população.
Difícil é admitir o preconceito (e em alguns casos ignorância) que parece estar no sangue de milhares de habitantes dessa cidade tão minúscula!


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